“...Senhor, para onde iremos? Só tu tens palavras de vida eterna”.

(João 6:68).

terça-feira, 13 de abril de 2010

O corpo do Ressuscitado

“Este é o meu corpo, entregue por vós”. Um corpo é um organismo articulado e vivente. Ele é animado por “algo” interior a ele, capaz de querer e de compreender, portanto, de dirigi-lo. Este “algo” se chama alma. É o que dá ao corpo unidade e energia; é o que o guia e o mantém na existência. Um corpo sem alma é apenas um cadáver.
O “corpo de Cristo” que nós veneramos, caminhou na Palestina, há dois mil anos atrás. Como cada um de nós, foi um embrião, criança, adolescente, adulto. Conheceu o cansaço junto ao poço de Jacó, dormiu no fundo da barca no lago agitado pela tempestade, se alimentou, caminhou, sorriu e chorou. Ao final, foi torturado, crucificado e morto.
Depois da morte, este corpo não se deteriorou num sepulcro como os outros, porque era puro, totalmente unificado no dom de si, portanto, inalterável.
Na manhã da ressurreição, o sepulcro estava vazio, o corpo tinha desaparecido. Tudo era como se tivesse se volatizado do seu interior. Este corpo não foi somente re-vivificado como aquele de Lázaro. Ele recebeu uma natureza nova, imortal: chegou ao fim da história, saiu do tempo.
Não se podia reconhecê-lo externamente como se costuma identificar alguém pelo seu rosto, andar e voz. Ele se manifestava a quem queria e quando queria. O Ressuscitado, aparecendo de improviso, queria que os apóstolos compreendessem que, doravante, estaria com eles sempre e em toda parte, até o fim dos tempos.
Era preciso que o corpo ressuscitasse; Cristo, sem o seu corpo, não seria plenamente humano, pois o homem não é um anjo. Pela força da ressurreição, este corpo não está mais limitado ao espaço e ao tempo: é um “corpo glorioso”.
A transformação foi tal que seus amigos tiveram dificuldade para reconhecê-lo: os discípulos de Emaús fizeram um longo caminho com ele antes de reconhecê-lo na “fração do pão”, a eucaristia; Maria Madalena o confundiu com um jardineiro e só o reconheceu quando ele a chamou pelo nome; os apóstolos, depois da pesca milagrosa, não ousavam falar-lhe ... Por fim, todos o reconheceram nos sinais do seu amor: as feridas da paixão. Então, o que revelava a sua presença era o seu amor, único e inigualável. O seu corpo era só amor. É assim que se irá reconhecê-lo doravante. Para entrar no cenáculo, Jesus não atravessou as paredes: ele já estava lá no meio deles e se revelou quando achou oportuno. De fato, ele esteve sempre com eles, mas era preciso que eles aprendessem a viver com ele sem vê-lo, que se habituassem a seu outro modo de presença.

Côn. Antônio José de Moraes - Comissão Arquidiocesana de Pastoral Litúrgica

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